Os próximos dias serão decisivos para a economia mundial. De 4 a 8 de novembro, o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo da China se reúne para anunciar uma série de estímulos para impulsionar o crescimento da segunda maior economia do planeta.
De acordo com a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, os estímulos fiscais deverão ser conhecidos apenas durante o evento, que é muito aguardado pelos investidores, mas informou que diversos projetos de lei e relatórios de agências governamentais serão revisados.
Para o professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) Paulo Dutra Constantin, entender a hierarquia política chinesa é essencial para captar a dimensão global dessas decisões.
“O Partido Comunista Chinês é o centro do poder, enquanto o Congresso Nacional do Povo define as políticas econômicas e sociais”, afirma.
Efeitos na economia global: o que muda?
Constantin enfatiza que, sendo a China a segunda maior economia mundial, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, cada medida aprovada pelo CNP afeta mercados ao redor do mundo. “A reforma econômica de 1978, por exemplo, alavancou a economia a taxas superiores a 9% ao ano, promovendo um boom de commodities no início dos anos 2000”.
Em setembro, o Banco Central chinês deu início a uma série de estímulos, com uma injeção de liquidez de 1 trilhão de yuans (o equivalente a mais de R$ 800 bilhões) e cortes nas taxas de juros. As medidas de apoio monetário foram as mais agressivas desde a pandemia da Covid-19. Segundo o economista, embora esses estímulos forneçam fôlego temporário, não são suficientes para sustentar um crescimento acelerado no longo prazo.
A China já opera próxima da sua capacidade máxima de produção e enfrenta limitações naturais de expansão. Medidas adicionais, como emissão de títulos e subsídios, podem aumentar a demanda agregada, mas o efeito será passageiro e pode resultar em inflação. Em médio prazo, a economia pode entrar em um ciclo de estagnação e aumento de preços”, prevê Constantin.
Impactos para o Brasil e o agro
A reunião do Congresso chinês é um evento de impacto global, e as deliberações da próxima semana podem determinar não apenas o ritmo de crescimento econômico na China, mas também o cenário para os principais parceiros comerciais do país asiático, incluindo o Brasil.
Constantin avalia que, no curto prazo, os incentivos fiscais podem elevar a demanda por commodities, beneficiando a economia brasileira. Ele alerta, porém, que “com o aumento da inflação na China, medidas restritivas serão aplicadas, reduzindo o consumo, principalmente de minerais”.
As commodities agrícolas, por sua vez, deverão ser menos afetadas por serem essenciais à alimentação.
Para o professor da Faap, o ritmo de crescimento da China deve desacelerar naturalmente, devido à base de comparação que aumenta ano a ano, além das limitações tecnológicas para ganhos de produtividade.
“Essa desaceleração é inevitável. O Brasil precisa diversificar seus parceiros comerciais e investir em infraestrutura e produtividade para reduzir a dependência chinesa, criando uma base econômica mais equilibrada”, conclui.
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